As atividades que deram início às homenagens alusivas aos dois anos da tragédia na boate Kiss foram marcadas de emoção e pedidos de justiça pela morte dos 242 jovens que morreram no incêndio, na noite do dia 27 de janeiro de 2013.
Com cartazes em mãos e vestidos de branco, familiares e amigos das vítimas começaram a chegar na Praça Saldanha Marinho por volta das 19h desta segunda-feira. Um vídeo com mensagens de pais e mães das vítimas, dos sobreviventes e com imagens de manifestações realizadas durantes estes dois anos foi exibido em um telão ao público presente. Organizado pelo Movimento do Luto à Luta, o ato foi a primeira mobilização das atividades programadas na cidade.
Enquanto as homenagens eram feitas na praça, familiares do Luto à Luta e integrantes do grupo Mães de Janeiro se concentravam em frente à boate Kiss, na Rua dos Andradas. Três cartazes com frases de protesto foram fixados na parte superior da fachada do prédio com pedidos de justiça e agilidade nos processos judiciais.
Um coração branco foi pintado no asfalto no meio da rua. Além das faixas, estudantes do curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) deram início à transformação da frente da boate, com a confecção de painéis de grafite, com desenhos que cobriram parte da fachada do prédio.
Deivison de Lima, 24 anos, é aluno do 6º semestre do curso e foi um dos responsáveis pela arte grafitada.
- Nós sempre participamos, de uma maneira ou de outra, das manifestações junto ao movimento. É uma forma de darmos o nosso apoio ao que aconteceu e aos familiares. Nós também sofremos com a tragédia. Perdemos uma aluna do curso - comenta o estudante, se referindo à ex-colega Taise Carolina Viñas Silveira, uma das vítimas do incêndio. Ela estava no 3º semestre de Artes Visuais na UFSM.
De um lado do prédio, a frase 'Até quando a indiferença vai servir à injustiça?' foi pintada como forma de protesto. Do outro, uma imagem de uma pessoa junto à reprodução do símbolo da Justiça - a deusa Atenas com os olhos vendados e uma balança na mão. O significado do grafite ainda não foi revelado pelos organizadores do movimento, nem pelo grupo que desenhava o painel. Ele será finalizado na manhã de terça-feira.
Por volta das 23h, com velas em mãos, o público que se reunia na Praça Saldanha Marinho deu início à caminhada silenciosa rumo à vigília em frente ao prédio da boate. A Rua dos Andradas estava toda iluminada, com velas espalhadas pelo meio fio, no entorno do coração pintado no asfalto e formando a palavra 'justiça'. Durante o percurso, era possível ouvir os gritos de quem acompanhava o ato da janela de casa, em forma de apoio à manifestação.
A caminhada durou aproximadamente 15 minutos, e terminou com o encontro de familiares e amigos que aguardavam pelo grupo em frente à boate. Ao som de músicas religiosas tocadas ao violão, o grupo deu início à vigília. Integrantes do grupo de dança da Igreja Templo das Nações de Santa Maria se apresentaram e emocionaram o público que assistia às homenagens.
Uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil, que havia sido retirada da frente do prédio em outubro pelos familiares (quando foram retirados o material fixado nos tapumes para a descontaminação do prédio), foi recolocada junto à porta da boate. De acordo com o coordenador do Movimento Luto à Luta, Flávio Silva, ninguém sabe quem a colocou ali no início, mas em conversa com outros familiares, o grupo decidiu fixar a imagem de volta como forma de homenagear os que se foram.
- Ela foi restaurada por uma artista plástica de Santa Maria e, agora, ganhou uma gruta que a protegerá do sol e chuva. Na terça-feira, ela deve ser chumbada ao chã"